Se perguntarmos à maior parte das pessoas o que é preciso para ser aprovado em um bom concurso, a resposta vem de pronto: dedicar a vida inteiramente aos estudos. Esse é o estereótipo do bom candidato. Felizmente, isso tem se tornado um mito. Cada vez fica mais claro que não é só quem fica enfurnado em casa estudando 12 horas por dia que consegue uma cadeira no servidorismo público. Passar em um processo seletivo exige muito mais do que o puro conhecimento: requer também maturidade emocional e senso de organização. É exatamente disso que trata o coaching, uma modalidade de treinamento utilizada no campo profissional que está invadindo o mundo dos concursos.
Afinal, do que adianta estudar excessivamente - em situação de extremo estresse e pressão psicológica - se na hora da prova você corre o risco de sofrer o famoso "apagão"? Qual é a finalidade de devorar livros e apostilas sem um cronograma, se uma semana antes da prova você pode perceber que não revisou nem a metade das matérias indicadas no edital de abertura? Se você pretende ver seu nome estampado na lista de aprovados do Diário Oficial, deve ficar atento a muitos detalhes, e isso inclui planejamento e bem-estar mental.
Como funciona o coaching
O candidato tem um meta: ser aprovado. Mas alcançá-la, nem sempre é tão fácil. É neste ponto que entram os coachs, os profissionais especializados em treinar o estudante, ajudando-o a aperfeiçoar e otimizar suas habilidades e competências. Nas sessões são abrangidas questões como planejamento de estudos e preparação emocional, imprescindíveis para que a jornada dê certo. Alessandro Marques começou a trabalhar com coaching para concursos em 2006, e desde então, já ajudou muitas pessoas a alcançarem a aprovação em Brasília/DF. "O trabalho teve início com o atendimento individual de estudantes e evoluiu para um programa de preparação para seleções públicas", conta.
A fórmula mágica do atendimento feito pelo profissional consiste em apenas três palavras. "Descobri o que chamamos de 'Tríade da Aprovação', que são fatores críticos de sucesso para a aprovação em concursos. Ela é formada pelos fatores conhecimento (o que aprendemos), metodologia (a forma como aprendemos) e emocional (como estamos quando aprendemos ou fazemos provas)", explica Marques. Os dois últimos temas são aqueles mais trabalhados junto ao candidato, para que ele possa ter estrutura para alcançar a meta almejada.
A parte da metodologia, segundo o coach, é trabalhada por meio de encontros coletivos, com a presença de até 10 pessoas. Neles são apresentados tópicos como planejamento e organização de estudos, estilos de aprendizagem e concentração. Nesta fase, o candidato também aprende como fazer resumos, criar esquemas e mapas mentais, desenvolver técnicas de memorização, compreender bancas organizadoras e estruturar legislações.
Já a questão emocional é tratada diretamente com cada pessoa. É quando o coach conversa sobre superação dos empecilhos existentes, comportamento, hábito, disciplina e foco, entre diversas outras coisas. Neste caso, toda a consultoria acontece em um prazo de três meses - cinco sessões coletivas e outras cinco individuais, alternadas. Segundo Marques, a tendência é que o coaching focado em concursos continue em expansão. "É um mercado crescente, pois os estudantes estão percebendo cada vez mais que a aprovação não depende somente do conhecimento que adquirem, mas também da forma como estudam e de fatores emocionais", defende.
Marques diz que o modelo de coaching utilizado no ramo dos certames públicos é muito semelhante àquele realizado no âmbito profissional. Os fatores para a obtenção do sucesso são os mesmos para todos os concurseiros, mas os atendimentos são feitos de acordo com a condição de cada cliente. "Cada um possui necessidades e estímulos diversos, aprendem de maneira distinta e também fazem parte de contextos diferentes. O nosso programa ajuda o estudante a conhecer seu caminho e suas habilidades e também a se conscientizar que toda escolha tem seu preço e que o importante é estar disposto a pagar por ele".
Objeto de estudo: concurseiro
No estado do Paraná, a coach Daniela Zanuncini ajuda estudantes a passarem em concursos públicos desde 1996. Ao contrário de Marques, ela trabalha apenas com atendimentos individuais. "Atuamos com foco e metas. A cada reunião, o estudante tem ações de acompanhamento que ele deve executar e depois me passar por relatório. É uma sistemática de autogestão. A partir do momento em que a pessoa se treina, ela passa a não dar mais satisfações a mim e sim a ela mesma", explica.
Para traçar os métodos de estudo adequados, segundo Daniela, é preciso fazer uma análise do perfil do concurseiro. Após esta fase de reconhecimento, o candidato ganha dicas específicas para melhorar a performance na hora das provas, conselhos de autogerenciamento, informações sobre inteligência emocional e exercícios psicocorporais preventivos ao estresse, entre outros. Ela alega que o treinamento serve de complemento a todo o conhecimento adquirido pelo candidato. "Às vezes as pessoas fazem um cursinho e aprendem muitas dicas na aula, mas ninguém diz a elas qual é o melhor jeito de estudar ou o melhor método de memorização", explica.
Outro ponto abrangido com profundidade pela profissional é o do autoboicote. "Muitas vezes um candidato acaba se sabotando por conta do emocional. Um exemplo: o concurseiro estuda porque quer uma estabilidade financeira e sair de casa, só que tem pânico de morar sozinho. Então ele acaba se prejudicando inconscientemente por causa disso e não passa. Com o coaching, identificamos todos os tipos de boicotes inconscientes e desbloqueamos isso na pessoa".
Na maioria das vezes, coisas simples são capazes de atrapalhar o desempenho dos candidatos. "Tive um cliente que tentava o concurso da Receita Federal. Ele estudava sozinho há dois anos e até tinha uma boa autogestão, mas a 'coisa não ia'. Começamos a perceber que o que faltava era o gerenciamento das atividades físicas e de lazer, pois ele só tinha o conteúdo. Depois da mudança, ele passou no concurso", relembra. "A pessoas se sentem muito sós durante este período de estudos, acabam se isolando. Você se cobra, mas não rende - justamente por não saber como estudar melhor. Nós oferecemos as ferramentas para que isso aconteça", finaliza.
Crescendo e aprendendo
A contadora Rosemary Novais, 36 anos, resolveu procurar um programa de coach após perceber que estava se preparando como todos os outros, mas não conseguia obter os mesmos resultados que eles. "Eu já estudava há um tempo e não conhecia esse trabalho. Chegou ao ponto em que eu vi que estava faltando algo, alguém que me orientasse sobre técnicas para melhorar o meu desempenho. Eu não tinha planejamento", conta a candidata.
A contadora, que terminou o treinamento neste ano, se sente mais preparada para enfrentar a maratona de estudos e entrar na disputa acirrada por uma vaga. "O maior benefício que o coaching trouxe para mim foi questão da autoconfiança. Aprendi a acreditar, a visualizar meu sucesso e a ter metodologia e planejamento, que são as coisas que vão me levar aonde eu quero. Também aprendi a controlar a minha ansiedade. Agora estou me desenvolvendo sozinha, colocando em prática tudo o que me foi ensinado".
Do Correioweb
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