Encontramos ele próximo à Rodoviária, em Fortaleza, mas poderia ser aqui em Natal ou em qualquer outro lugar. Sentado com as pernas entrecruzadas, cabeça baixa e sorriso maroto, não se nega a conversar.
Emanuel AmaralNas ruas de praticamente todas as cidades do país, as drogas baratas atrem adolescentes que não conseguem se livrar do vício
Com um olhar bem vivo e jeito de impaciente, Roberto diz que não gosta de ser chamado de vítima ou coitadinho. "Sei me virar na rua", conta, afirmando que fuma em média quinze pedras de crack por dia, ao custo de R$ 5,00 a unidade. Multiplicando , dá R$ 75,00 por dia, se for verdade, em um mês são mais de R$ 2.000,00 só com droga. Como você consegue dinheiro, é bem mais do que ganha um trabalhador assalariado? Questiona o repórter. A resposta é imediata: "peço uns trocados as pessoas para comprar comida, pastoro carros, atendo a pedidos, as pessoas ajudam", diz.
Roberto conheceu o crack através de um amigo. Os pais são separados, faz meses que não os vê. O pai sumiu e a mãe iniciou um novo relacionamento, os conflitos em casa se acentuaram com o padastro e as brigas terminaram por fazer com que fosse para às ruas, onde aprendeu a viver, a dormir olhando as estrelas no céu. Deixou a escola e prefere perambular sozinho pelas ruas, ao invés de viver em pequenos grupos, como muitos dos seus conhecidos.
Com apenas 15 anos, Roberto demonstra uma segurança e uma maturidade que surpreende o repórter. Uma piscadela de vez em quando e uma certa agitação no corpo demonstra o vício. Diz que vai ter que ir, mas peço mais um minuto, quando se estabelece o seguinte dialogo:
-Cara, você é bonito, inteligente, você vai sair desse vicio quando se apaixonar por uma garota.
-Aconteceu isso com um colega. Ele se apaixonou por uma garota, deixou o crack e começou até a trabalhar. Mas comigo é diferente, sou apaixonado pela pedra!
Vejo Roberto sair, dando "tchau" com seu sorriso maroto, e ouço do educadot que me acompanhava a seguinte frase/sentença: "Este não vai sobreviver mais do que um ano", numa alusão ao número de adolescentes e jovens que morrem, diariamente, vítimas do crack e da ausência de políticas públicas que possibilitem um tratamento adequado e a cura dessas pessoas.
Da Tribunadonorte.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário