segunda-feira, 14 de novembro de 2011

DESTAQUE PATU NOTÍCIA - HISTÓRIA DE VIDA DE UMA GRANDE MULHER


HISTÓRIA DE VIDA DE UMA GRANDE MULHER
                                                                                              Miriam Rocha
           
            Amigo Higor, achei importante fazer uns registros apenas com o raciocínio do amor e da gratidão e fazer uma homenagem àquela que tem o coração livre do ódio, a mente livre da ansiedade, a vida simples de esperar pouco e dar muito. Aquela que enche a vida apenas com amor, passando os anos espalhando luz. Essa pessoa poderia ser chamada anjo da paz, anjo da luz, anjo da sabedoria. É minha mãe Maria Carmelita Rocha, que nasceu em 1913, na Fazenda São Miguel, na entrada da Serra das Três Cabeças em Caieira, hoje Almino Afonso. Naquele tempo não dava para imaginar ela se formando professora, visto a dificuldade de chegar a um centro de formação. Seus pais logo entenderam que precisavam fazer o sacrifício de mandar a pequena Maria estudar em Mossoró. Lá viajou ela com sua avó mãe Guida, três dias a cavalo pernoitando em casas de conhecidos, onde alternavam os cavalos cansados. Não havia telefone, trem, carro ou ônibus. Seus pais João Morais e Sebastiana ficaram chorando sua ausência, aos quais poderia rever uma vez por ano, por ocasião das férias quando vinha no carro do tio comerciante Raimundo Leão, onde estava hospedada. Estudou e se formou no União Caxeiral. Veio lecionar em Patu, como primeira professora formada. Seus alunos daquela época, a recordam como sendo a melhor das professoras. Muitos deles, bem sucedidos por este Brasil afora, falam dela com admiração e amor. Foi e é a pessoa mais culta com que já convivi. Meu pai a chamava Enciclopédia. Sempre foi de uma postura ímpar. Nunca ouvi sair de sua boca um palavrão ou uma ofensa a quem quer que seja.

Casou-se em 1935 com Joaquim de Oliveira Rocha, que era viúvo de Dona Helena Fernandes com a qual teve quatro filhos: Hildo, Antonio, Francisco e Deusdeth. Cuidou deles como se fossem seus. Ela mesma ainda teve onze filhos: Joaquim, Olimar, Otoni, Oliveth, Maria Lúcia, Maria da Salete, Maria Helena, João Bosco, Zilar, Pedro e eu MiriamTereza. Seus ensinamentos sempre estavam voltados para o bem e para o saber. Cultura para ela era o bem maior, pois dizia que com cultura se consegue tudo. A gente tinha que aprender de tudo, desde cozinhar, se apresentar em público com elegância, saber entrar e sair em qualquer lugar. Por isso desde pequenos íamos para o colégio interno das freiras, depois para a Escola Doméstica de Natal, depois para Brasília. Mamãe foi por muitos anos diretora do Grupo Escolar João Godeiro. Nunca deixou de ser a professora Carmelita Rocha. Nunca foi chamada de Dona Carmelita de Seu Oliveira Rocha. Sempre teve sua própria identidade. Irradiava sua luz diante de todos e nunca foi sombra. Tenho lembrança da ocasião em que foi entrevistada no Programa do Fantástico da Rede Globo de Televisão, quando o repórter lhe perguntou: “o que pensa uma mulher de um coronel do Nordeste ?” Ela respondeu: “Foi tudo muito bom, mas não gosto de ver ninguém ser subjugado a alguém”.

 Por muitos anos foi a secretária da Associação do Apostolado da Oração. Redigia as atas das reuniões mensais, com muito esmero e letra bonita. Tenho certeza de que quem fez e faz o Apostolado da Oração, entre tantas, sua afilhada Nadir Godeiro, tem o maior carinho por ela. Sempre gostou de participar em tudo na igreja. Por isso ela e meu pai doaram para a igreja, a casa em que nascemos e que hoje é o salão paroquial.

 Estou apresentando este pequeno histórico de minha mãe, por ser sua maior admiradora e estou com saudade de suas conversas, pois ela nunca nos impôs nada. Usava um jeito de nos aconselhar, dizendo: “se eu fosse você, faria assim...” Nesses conselhos transbordando de firmeza mais completa de amor, fazíamos tudo o que ela dizia. Lembro-me de frases que sempre permanecerão em mim: “Cuidado com as pessoas que sempre lhe adulam. Elas são como sepulcros caiados, bonitas por fora, mas podres por dentro. E a gente só conhece um amigo, quando come um saco de sal junto com ele”.

Quero de coração agradecer as pessoas que tão bem estão cuidando dela, enfraquecida e prostrada em seus 98 anos de idade: Dra. Fátima, Maria Dutra, Maria das Graças vulgo Cacata e Juarez Veras que por muito tempo foi seu motorista. Devido as mais diversas circunstâncias e compromissos com a família não posso me dedicar diretamente a ela como eu gostaria.

Gosto de contar histórias, pois se não fossem os contadores de histórias, como seria a vida? Não saberíamos, por exemplo, que existe uma pessoa que teve a determinação e a coragem suficiente de andar três dias a cavalo, exposta ao calor do sol e com sede, para poder estudar e se tornar um ícone da cultura e do saber. Agradeço a Deus pela felicidade de a ter como mãe e amiga. 

Do Blog de Higor Godeiro

Um comentário:

maria disse...

EU TIVE O PRIVILÉGIO DE CONHECE-LA E SEMPRE ADMIREI MUITO A DONA CARMELITA

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