quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Corte de juros afeta pouco o consumidor; impacto demora até 60 dias

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central decidiu cortar a Selic (taxa básica de juros) em 0,5 ponto percentual, para 12% ao ano, na reunião de ontem (quarta-feira, 31), surpreendendo a maior parte do mercado, que apostava na manutenção da taxa.


De acordo com especialistas, apesar de o corte ter causado surpresa, o efeito no bolso do consumidor não deve ser muito sentido. “Não tem um impacto tão grande nos juros ao consumidor final. A questão é um pouco mais psicológica”, afirma o professor de economia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), Gilberto Caetano.

Além disso, ele ressalta que esta redução não deve ser sentida imediatamente. “No campo das aplicações financeiras, o impacto é mais imediato. Mas, na ponta do crediário, se acontecer alguma redução, demora cerca de 30 a 60 dias”, afirma Caetano.

O especialista da MoneyFit, Antonio De Julio, concorda. “O spread (diferença entre os juros cobrados pelos bancos e o que eles pagam aos clientes para utilizar o dinheiro aplicado) ainda é muito alto. Então, um corte de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juro resulta praticamente em um corte do mesmo tamanho na taxa anual de juros do cartão de crédito. A diferença é que a Selic é de 12% ao ano, enquanto os juros do cartão ultrapassam os 200% ao ano”, afirma De Julio.

Haverá mais cortes?

Para eles, resta saber se o Banco Central vai continuar adotando o mesmo tipo de medida nas próximas reuniões. “Temos que ver se realmente a tendência é de uma virada ou se foi um corte casual”, diz De Julio.
Gilberto Caetano concorda. “O importante é que este processo continue, para mostrar que a intenção do governo estaria bem em linha com a promessa da Presidência de aumentar o superavit primário (economia para pagar juros da dívida pública) e fazer um colchão de poupança para reduzir a taxas de juros”, afirma Caetano.

Pressão inflacionária

De acordo com o especialista da MoneyFit, o Governo deve ficar atento agora às pressões inflacionárias. Isto porque, mesmo que o impacto no crédito ao consumidor não seja tão grande, a inflação ainda preocupa. “Temos visto o IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado) alto e os preços ainda não estão totalmente sob controle”, afirma De Julio.

Segundo Caetano, olhando apenas pelo lado da inflação, a decisão mais esperada seria realmente manter os juros em 12,50% ao ano. “Acredito em uma certa interferência política, por conta da pressão da indústria em relação a um corte de juros”, afirma o professor. “Ainda não estamos livres da inflação, mas mesmo assim o BC decidiu reduzir os juros, exatamente em um momento em que as centrais sindicais estão brigando por aumentos salarias. Então, teoricamente, deve haver um aquecimento ainda maior do consumo e o risco de aumento dos preços”, diz o professor.

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