sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

No Brasil, inflação para mais pobres é ainda maior

A alta dos alimentos ao longo de 2010 fez a inflação no Brasil chegar ao seu maior patamar em seis anos, mas foi entre os mais pobres que o aumento geral de preços ficou ainda mais evidente. Os brasileiros que recebem de um a seis salários mínimos tiveram de enfrentar uma inflação de 6,47% no ano passado, enquanto o índice oficial, que mede até 40 salários mínimos, ficou em 5,91%.  
Com um orçamento apertado e comprometido com as necessidades básicas, as classes de baixa renda encontram dificuldade em substituir produtos e serviços cada vez mais caros, resultando em uma inflação maior para essa parcela da população.

Itens importantes da mesa do brasileiro tiveram uma alta expressiva em 2010: o feijão, por exemplo, ficou até 60% mais caro, enquanto o preço da carne subiu 30%.

Segundo economistas, alimentos mais caros costumam ter um efeito ainda "mais cruel" entre os mais pobres, que dedicam uma maior parcela de sua renda a essa categoria. "Nas classes mais baixas, a alimentação tem um peso de até 40% na despesa total, enquanto entre os mais ricos esse peso fica perto de 10%", diz o economista Salomão Quadros, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Rio).

No ano passado, o preço dos alimentos registrou uma alta de 10,82% para os mais pobres, representando 3,20 pontos percentuais de toda a inflação no período - o equivalente a metade do índice. "Quanto mais uma inflação é influenciada pela alta dos alimentos, mais vulneráveis ficam os pobres", diz Quadros. 

Escassez

Mesmo figurando entre os maiores produtores de alimentos do mundo, o Brasil não ficou imune à alta dos alimentos que vem atingindo vários países e chegou a um nível recorde em dezembro, segundo as Nações Unidas.
 
O caso da carne, vilão da inflação brasileira no ano passado, é um dos mais simbólicos: a produção está em alta no País, mas ainda assim o produto está em escassez no mercado local, o que pressiona seu preço para cima.

"Como os preços estão em alta no mercado internacional, o produtor brasileiro ganha mais exportando a carne, mesmo que isso resulte em estoques menores para o mercado interno", diz a economista Cornélia Nogueira, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

"É o mercado internacional afetando o poder de compra do consumidor de baixa renda no Brasil", acrescenta.

Uma das regras do período de inflação alta, a substituição de um produto por um similar também está "complicada" no País, segundo Cornélia. "Quando milhões de pessoas decidem substituir a carne bovina por carne de frango, por exemplo, o frango também sobe", diz. "Ou seja, até mesmo os produtos considerados substitutos estão mais caros".

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