sexta-feira, 8 de abril de 2011

Escola é palco de crime insano

Rio (AE) - A escola municipal Tasso da Silveira, em Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro, foi palco ontem do crime mais brutal num colégio do País. Por volta de 8h15, Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, disparou mais de 100 tiros em duas salas no primeiro andar da escola. Dez meninas e dois meninos, entre 12 e 15 anos, morreram. Dez meninas e dois meninos ficaram feridos. Três deles estão em estado grave. Uma delas, Taiane Tavares Pereira, de 13 anos, foi atingida por três tiros, teve lesão na medula e corre risco de ficar paraplégica.
jadson marques/aeO desespero provocado por Wellington (foto menor) extrapolou as salas de aulas da Escola Tasso da Silveira, na Zona Oeste do Rio, onde ocorreu a chacina. O episódio deixou o Brasil estarrecido e solidário com as famílias das vítimas.O desespero provocado por Wellington (foto menor) extrapolou as salas de aulas da Escola Tasso da Silveira, na Zona Oeste do Rio, onde ocorreu a chacina. O episódio deixou o Brasil estarrecido e solidário com as famílias das vítimas.
Alertado por duas meninas que, mesmo feridas, conseguiram fugir da escola, o sargento da PM Márcio Alves trocou tiros com Wellington no corredor do primeiro andar. O atirador foi atingido na perna, caiu na escada e, segundo Alves, se matou com um tiro na cabeça. Toda a ação não durou mais do que 15 minutos. O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), decretou luto oficial de sete dias em memória das vítimas.

Wellington chegou à escola por volta de 8h15 e se identificou como ex-aluno interessado em buscar seu histórico escolar. Estava bem-vestido, de camisa verde, calça e sapatos pretos, com uma mochila nas costas. Subiu direto para a sala de leitura, no primeiro andar. Na hora, foi reconhecido por sua ex-professora, Doroteia. “Você veio fazer palestra para os alunos?”, perguntou. A escola está comemorando 40 anos com palestras de ex-alunos bem-sucedidos.

Não era o caso de Wellington. Doroteia pediu que ele esperasse um pouco porque estava ocupada. Minutos depois começou a tragédia. Wellington saiu da sala, largou a mochila, colocou o cinturão com carregadores, entrou na sala em frente, e anunciou: “Vim fazer a palestra”. Em seguida, começou a atirar com um revólver 38 mirando na cabeça das crianças sentadas nas primeiras filas. A outra arma, um revólver 32, não foi usada.

Uma das crianças contou ao pai que Wellington usava fone de ouvido e que ria enquanto atirava. Alguns alunos se jogaram debaixo das mesas. Outros tentaram fugir. Quando Wellington parou de atirar para recarregar a arma, Patrick da Silva Figueiredo, de 14 anos, que estava nas fileiras de trás, saiu correndo de mãos dadas com uma amiga. Mas não deu tempo. Wellington acertou a menina, Patrick escorregou numa poça de sangue e quebrou o dedo do pé.

Em seguida, Wellington foi para a sala em frente e fez novos disparos. Segundo alunos, ele mandava que os meninos fossem para a parede. Mesmo diante das súplicas para não serem mortas, Wellington atirava na cabeça das vítimas. Quando estava no corredor, indo para o andar de cima, Wellington encontrou  o sargento Márcio Alves, do Batalhão de Polícia Rodoviária. Na troca de tiros, Alves acertou Wellington na perna. Em seguida, segundo o PM, Wellington se matou com um tiro na cabeça.

Na mochila do assassino foi encontrada uma carta, em que pede para ser enterrado ao lado da mãe adotiva, Dicéa Menezes de Oliveira. Pede também para que seu túmulo seja visitado por um “seguidor de Deus”. “Preciso que ele ore diante de minha sepultura pedindo perdão de Deus pelo que eu fiz”, diz Wellington na carta.

No momento do massacre, 400 alunos estavam na escola. As professoras, em pânico, fecharam as portas e bloquearam com cadeiras. No andar de cima, uma professora passou em todas as salas e mandou que os adolescentes subissem para o auditório, no quarto andar. Os alunos ficaram sentados no chão. Os professores trancaram a porta e colocaram cadeiras e armários para bloquear a entrada.

As ambulâncias não foram suficientes para socorrer os feridos. Luiz Alberto Coelho Barros, de 58 anos, passava em frente à escola quando viu adolescentes correndo em pânico. Alguns estavam feridos. “Era uma cena pavorosa. A frente da escola estava cheia de criança ferida no chão”, contou. Barros levou seis feridos na carroceria da sua Kombi. “Eles respiravam, mas estavam inconscientes. Uma delas tinha um buraco na cabeça.” Dois paramédicos foram na carroceria tentando prestar os primeiros socorros. Em dez minutos, escoltado por policiais, Barros chegou ao hospital Albert Schweitzer.

A Divisão de Homicídios da Polícia Civil já tinha identificado nesta quinta-feira (07) o dono do revólver 32. Ela está registrada no nome de um morador da zona sul do Rio. Em depoimento à polícia, ele disse que a arma pertencia ao pai, e foi roubada em 1993. O revólver 38 está com a inscrição raspada. O computador de Wellington foi apreendido pela polícia para tentar identificar quem vendeu a arma.

Atirador era quieto e reservado

Rio (AE) - Wellington de Oliveira  morava numa casa de alvenaria, de dois andares, na Rua José Fernandes, em Sepetiba, Rio de Janeiro. O imóvel está em má condição de conservação - tem vidraças quebradas e pichações na fachada. Na tarde de ontem, centenas de crianças de três escolas próximas à casa do atirador se reuniram em frente ao imóvel e acompanham o trabalho de policiais militares e civis que fazem vistoria em busca de informações sobre o rapaz.

O lote 18, onde Wellington morava nos últimos meses, fica praticamente em frente a uma escola municipal e a um Ciep. Uma terceira instituição de ensino está localizada a uma quadra de distância. Segundo vizinhos, Wellington era um rapaz quieto e reservado, mas apresentava comportamento normal. “Ele chegava todo dia, comprava pão na padaria, ovos no aviário e ia para casa. Só vivia dentro de casa”, disse a estudante Clara Isabelli, de 16 anos, moradora do local. A estudante Luciene de Oliveira, de 17 anos, também vizinha, se disse espantada com a notícia. “Ele tinha um comportamento normal. Foi uma surpresa para a gente. Ele não perturbava ninguém”, disse. A casa em que Wellington estava morando foi lacrada por policiais. O imóvel fica ao lado de dois pequenos terrenos abandonados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário